domingo, 2 de setembro de 2018

DISCURSO DE POSSE COMO PRESIDENTE DA ACADEMIA CRUZEIRENSE DE LETRAS

E, aquele
Que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado. Não será exposto
Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.”
MANOEL DE BARROS

Pietro Costa
A presente cerimônia de posse nesse ambiente conduz-me a emoções paradoxais. 

A uma, faço menção ao entusiasmo pela missão de ser um representante da arte e a literatura produzidas no Cruzeiro para o Distrito Federal, o Brasil e, quiçá, o mundo. 

Creio que a busca engajada e solidária pelo conhecimento, enquanto elevada aspiração, há de prover nosso planeta de pessoas melhores e, consequentemente, levá-lo a um novo patamar de progresso intelectual, moral e espiritual.

Fraternidade, liberdade, respeito, amor ao próximo, criticidade, empatia, humildade, responsabilidade, civismo e eticidade, são noções que somente se aprendem e internalizam pela convivência, na esteira de bons exemplos. 

A duas, refiro-me ao medo de destoar demais dos notáveis companheiros e companheiras desta distinta Academia, pela condição pessoal de quem ainda ensaia seus primeiros passos na carreira literária. O que me afaga e encoraja é a serenidade de que o prestígio e a fama importam bem menos do que a autenticidade e a justeza de propósitos. 

Os degraus que precedem a excelência serão, naturalmente, suplantados com o tempo. Discípulos se tornam mestres pelo convívio enriquecedor com os preceptores, na disposição de se expor às turbulências de olhares críticos, na audácia de desabitar lugares-comuns e pacíficos em busca de conflitos e abismos de sentido. 

Eu me considero, da ACL, um irmão, não pelo sangue, mas por nossas células serem revestidas da mesma energia provinda da fraterna amizade.

Se não tenho a vaidade ingênua ou soberba de esperar louros dourados de consideração, é intrêmulo o comprometimento de perfilhar todos os meios idôneos para que a ACL continue abrigando talentos motivados pelo amor às artes e literatura, contribuindo para elevar o pensamento crítico de nossos cidadãos.

Meu compromisso é manter e aperfeiçoar, no que for cabível e de consenso entre os pares, o projeto ousado, agregador, coerente e exitoso que vem sendo deflagrado nos últimos anos, mediante o trabalho perseverante, minucioso e engajado de todos, que tem nos propiciado uma crescente visibilidade e prestígio na cena cultural brasiliense.

Apesar de minha inexperiência em gestão e das sensíveis limitações impostas pelas contingências familiares e profissionais, de sabença do grupo, sinto-me motivado para assumir o desafio ora colocado, pelo respaldo dos pares e por acreditar no poder da superação e, especialmente, do trabalho colaborativo, marca registrada da ACL desde a sua fundação.

Apostando na renovação e alternância, essa honorável Associação demonstra sua solidez e maturidade enquanto coletivo. 

Lembrando o Imortal poeta e músico Ney Valença, com singelas adaptações: na ponta da corda bamba, que balança forte e nos joga, fixemos os olhos na vida, não importando pra que lado o vento pende e sopra! 

No meu mandato, tenciono encampar a defesa resoluta do diálogo franco, respeitoso, equânime e tolerante, sem subterfúgios, constrangimentos ou privilégios, priorizando, de modo inarredável, a construção de pautas e propostas factíveis, a fim de concretizar nossos objetivos de fortalecer as letras e cultura em geral, além de difundir e valorizar as artes e a literatura do DF.

É preciso, não obstante, lutar contra o obscurantismo e retórica ardilosa das ideias preconcebidas, das visões de mundo maniqueístas/simplificadoras, tão arraigadas em nossos hábitos, como a reprodução de textos prontos e de falácias flácidas, as distorções da realidade não raras

Pelos livros, há de vir o livramento de que tanto necessitamos! E também pela voz, pelos gestos, pela música, pela poesia, pelo teatro, pela dança, pela prosa, pelas múltiplas manifestações artísticas, enquanto libelos em proveito da legitimação das diversidades de visões e comportamentos; como brado a favor da liberdade e da paixão – vetores de inspiração criativa e realização humana! 

Prossigamos convictos de nossos ideais de inclusão e cidadania, palmilhando, entre as conquistas vindouras, nosso próprio lugar no mundo, cujo mapa encontra-se desenhado em nossos corações! E mais uma vez, em memória de nosso homenageado: “O destino descortina-se proveitoso e próspero na sua plenitude.” VIVA NEY VALENÇA! VIVA A ACL!

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